sábado, 25 de fevereiro de 2012

BIOGRAFIA DO MESTRE PASTINHA

MESTRE PASTINHA

 

Nome: Vicente Ferreira Pastinha 
nasceu em 5 de abril de 1889
filho do espanhol Jose Senor Pastinha 
e de Dona Maria Eugenia Ferreira. 
falesceu em 13 de novembro de 1981



   Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazĂ©m no centro histĂłrico de Salvador e sua mĂŁe ,com a qual ele teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que sobrevivia de vender acarajĂ© e de lavar roupas.

   Dizia nĂŁo ter aprendido a capoeira em escola, mas "com a sorte". Afinal, foi o destino o responsável pela iniciação do pequeno Pastinha no jogo, ainda garoto. Em depoimento prestado no ano de 1967, no 'Museu da Imagem e do Som', Mestre Pastinha relatou a histĂłria da sua vida:  

"Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era sĂł eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. SĂł sei que acabava apanhando dele, sempre. EntĂŁo eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza." 

    A vida iria dar ao moleque Pastinha a oportunidade de um aprendizado que marcaria todos os anos da sua longa existĂŞncia.
"Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui".

    Com oito anos de idade Pastinha conheceu a arte da capoeira. Quem o iniciou foi um negro africano a quem chamava de tio Benedito que ao ver Pastinha um menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho resolveu ensinar-lhe a arte da capoeira. Passava tardes inteiras treinando num velho sobrado da rua do Tijolo em Salvador. Ali aprendeu alĂ©m de tudo a jogar com a vida e a ser um vencedor. 
  "Ele costumava dizer: nĂŁo provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que vocĂŞ sabe (…). Na Ăşltima vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um sĂł golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou atĂ© meu amigo de admiração e respeito."

   Viveu uma infância feliz, porĂ©m, modesta. Durante as manhĂŁs frequentava aulas no Liceu de Artes e OfĂ­cio, onde tambĂ©m aprendeu pintura. Ă€ tarde, empinava arraia e jogava capoeira. Com 13 anos era o mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde, foi matriculado por seu pai na Escola de Aprendizes de Marinheiro que nĂŁo concordava muito com a prática da capoeira pois achava que era muita vadiagem. Conheceu os segredos do mar e ensinou aos amigos que conquistou a arte da capoeira.
"Aos doze anos, em 1902, eu fui para a Escola de Aprendiz de Marinheiro. Lá ensinei Capoeira para os colegas. Todos me chamavam de 110. Saí da Marinha com 20 anos (...). Vida dura, difícil. Por causa de coisas de gente moça e pobre, tive algumas vezes a Polícia em cima de mim. Barulho de rua, presepada. Quando tentavam me pegar eu lembrava de mestre Benedito e me defendia. Eles sabiam que eu jogava Capoeira, então queriam me desmoralizar na frente do povo. Por isso, bati alguma vez em polícia desabusado, mas por defesa de minha moral e de meu corpo(...). Naquele tempo, de 1910 a 1920, o jogo era livre.
'Passei a tomar conta de uma casa de jogo. Para manter a ordem. Mas, mesmo sendo capoeirista, eu não me descuidava de um facãozinho de doze polegadas e de dois cortes que sempre trazia comigo. Jogador profissional daquele tempo andava sempre armado. Assim, quem estava no meio deles sem nenhuma arma bancava o besta. Vi muita arruaça, algum sangue, mas não gosto de contar casos de briga minha. Bem, mas só trabalhava quando minha arte negava sustento. Além do jogo trabalhei de engraxate, vendia gazeta, fiz garimpo, ajudei a construir o porto de Salvador. Tudo passageiro, sempre quis viver de minha arte. Minha arte é ser pintor, artista (...)."

   Quando completou 21 anos voltou para Salvador, decidido a se dedicar Ă  pintura. Nos horários de folga praticava capoeira Ă s escondidas, pois no inĂ­cio do sĂ©culo esta luta era crime prevista por Lei.

    Foi na atividade do ensino da Capoeira que Pastinha se distinguiu. Ao longo dos anos, a competĂŞncia maior foi demonstrada no seu talento como pensador sobre o jogo da Capoeira e na capacidade de comunicar-se. Os conceitos do mestre Pastinha formaram seguidores em todo Brasil. A originalidade do mĂ©todo de ensino, a prática do jogo enquanto expressĂŁo artĂ­stica formaram uma escola que privilegia o trabalho fĂ­sico e mental para que o talento se expanda em criatividade. Foi o maior propagador da Capoeira Angola, modalidade "tradicional" do esporte no Brasil.
 
 O ritmo da sua vida foi alterado quando um ex-aluno o levou para apresentar aos mestres que faziam uma roda de Capoeira tradicional, na Ladeira da Pedra, no bairro da Gingibirra, em Salvador, no ano de 1941.


"Na roda sĂł tinha mestre. O mais mestre dos mestres era Amorzinho, um guarda civil. No apertar da mĂŁo me ofereceu tomar conta de uma academia. Eu dei uma negativa, mas os mestres todos insistiram. Confirmavam que eu era o melhor para dirigir a Academia e conservar pelo tempo a Capoeira de Angola."


   No ano de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, situado no casarĂŁo 19 do Largo do Pelourinho esta foi sua primeira Escola de Capoeira. Seus alunos usavam como uniforme calças pretas e camisas amarelas, cores do time pelo qual torcia na Bahia, o YPIRANGA FUTEBOL CLUBE. Hoje, o local que era a sede de sua academia Ă© um restaurante do Senai.
   Pastinha trabalhou bastante em prol da Capoeira, representando o Brasil e a Arte Negra em vários paĂ­ses.

   Em 1966, integrou a comitiva brasileira ao primeiro Festival Mundial de Arte Negra no Senegal, e foi um dos destaques do evento. Contra a violĂŞncia, o Mestre Pastinha transformou a capoeira em arte. Em 1965, publicou o livro Capoeira Angola, em que defendia a natureza desportista e nĂŁo-violenta do jogo.
Entre seus alunos estĂŁo Mestres como JoĂŁo Grande, JoĂŁo Pequeno, CuriĂł, Bola Sete (Presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola), entre muitos outros que ainda estĂŁo em plena atividade. Sua escola ganhou notoriedade com o tempo, frequentada por personalidades como Jorge Amado, Mário Cravo e CarybĂ©, cantada por Caetano Veloso no disco Transa (1972). 
"Mas tem muita história sobre o começo da Capoeira que ninguém sabe se é verdadeira ou não. A do jogo da zebra é uma. Diz que em Angola, há muito tempo, séculos mesmo, fazia-se uma festa todo ano em homenagem às meninas que ficavam moças. Primeiros elas eram operadas pelos sacerdotes, ficando igual, assim, com as mulheres casadas. Depois, enquanto o povo cantava, os homens lutavam do jeito que fazem as zebras, dando marradas e coices. Os vencedores tinham como prêmio escolher as moças mais bonitas (...). Bem, mas de uma coisa ninguém duvida: foram os negros trazidos de Angola que ensinaram Capoeira pra nós. Pode ser até que fosse bem diferente dessa luta que esses dois homens estão mostrando agora. Me contaram que tem coisa escrita provando isso. Acredito. Tudo muda. Mas a que a gente chama da Capoeira de Angola, a que aprendi, não deixei mudar aqui na Academia. Essa tem pelo menos 78 anos. E vai passar dos 100, porque meus discípulos zelam por mim. Os olhos deles agora são os meus. Eles sabem que devem continuar. Sabem que a luta serve para defender o homem (...). Saem daqui sabendo tudo, sabendo que a luta é muito maliciosa e cheia de manhas. Que a gente tem de ser calmo. Que não é uma luta atacante, ela espera. Capoeirista bom tem obrigação de chorar no pé do seu agressor. Está chorando, mas os olhos e o espírito estão ativos. Capoeirista não gosta de abraço e aperto de mão. Melhor desconfiar sempre das delicadezas. Capoeirista não dobra uma esquina de peito aberto. Tem de tomar dois ou três passos à esquerda ou à direita para observar o inimigo. Não entra pela porta de uma casa onde tem corredor escuro. Ou tem com o que alumiar os esconderijos da sombra ou não entra. Se está na rua e vê que está sendo olhado, disfarça, se volta rasteiro e repara de novo no camarada. Bem, se está olhando ainda, é inimigo e o capoeirista se prepara para o que der e vier (...)."

    Os conceitos do mestre Pastinha formaram seguidores em todo o paĂ­s. A originalidade do mĂ©todo de ensino, a prática do jogo enquanto expressĂŁo artĂ­stica formaram uma escola que privilegia o trabalho fĂ­sico e mental para que o talento se expanda em criatividade.

"Capoeira de Angola só pode ser ensinada sem forçar a naturalidade da pessoa, o negócio é aproveitar os gestos livres e próprios de cada qual. Ninguém luta do meu jeito mas no jeito deles há toda a sabedoria que aprendi. Cada um é cada um (...). Não se pode esquecer do berimbau. Berimbau é o primitivo mestre. Ensina pelo som. Dá vibração e ginga ao corpo da gente. O conjunto da percussão com o berimbau não é arranjo moderno não, é coisa dos princípios. Bom capoeirista, além de jogar, deve saber tocar berimbau e cantar. E jogar precisa ser jogado sem sujar a roupa, sem tocar no chão com o corpo. Quando eu jogo, até pensam que o velho está bêbado, porque fico todo mole e desengonçado, parecendo que vou cair. Mas ninguém ainda me botou no chão, nem vai botar (...)"


   Com 84 anos de idade, doente, e fisicamente debilitado, foi morar no Pelourinho em um pequeno quarto, com sua segunda esposa, Dona Maria RomĂ©lia, deixando a antiga sede da Academia , devido aos problemas financeiros, o Ăşnico meio de sobrevivĂŞncia provinha dos acarajĂ©s que sua esposa vendia. Apesar da fama, o "velho Mestre" terminou seus dias esquecido. Expulso do Pelourinho em 1973 pela prefeitura, sofreu dois derrames seguidos, que o deixaram cego e indefeso.

Em Abril de 1981, participou da Ăşltima roda de Capoeira de sua vida.

    Numa sexta-feira, 13 de novembro de 1981, Mestre Pastinha se despede desta vida aos 92 anos, cego e paralĂ­tico, vĂ­tima de uma parada cardĂ­aca fatal. Durante dĂ©cadas dedicou-se ao ensino da Capoeira. Mesmo completamente cego, nĂŁo deixava seus discĂ­pulos. E continua vivo nos capoeiras, nas rodas, nas cantigas, no jogo.  

"Tudo o que eu penso da Capoeira, um dia escrevi naquele quadro que está na porta da Academia. Em cima, só estas três palavras: Angola, capoeira, mãe. E embaixo, o pensamento:

'Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista'.



 


Primeiro filme/documentário sobre capoeira lançado após a retomada do Cinema Nacional, conta a vida do maior mestre da capoeira Angola, seu Guardião e Poeta - Vicente Ferreira Pastinha, o mestre Pastinha.
Conta com depoimentos dele, de sua companheira D. Maria Romélia, dos maiores mestres da capoeira Angola, como João Grande, em Nova Yorque, USA, João Pequeno e Curió, em Salvador, Bahia, e Neco Pelourinho, no Rio de Janeiro, bem como o depoimento do mestre Dr. Ângelo Decânio, o mais antigo discípulo de mestre Bimba. Conta ainda com entrevistas de Jorge Amado, Carybé, Pierre Verger, Roberto Freire, Ildásio Tavares, do Prof. Muniz Sodré, e dos especialistas em capoeira Prof. Carlos Eugênio Líbano Soares e Frede Abreu.

Pastinha! Uma Vida pela capoeira é relançado em tres frentes:

  • Editora D+T, de SĂŁo Paulo, está disponĂ­vel nas bancas de jornais de todo o Brasil, junto com uma revista especial sobre o  mestre Pastinha.

  • Livraria Saraiva Digital, para download em todo o Brasil - Para Comprar o Filme, clique aqui (Livraria Saraiva Digital)

  • DIVA A.G, da Suíça, que está disponibilizando o DVD para download a mais de 100 sites revendedores de conteĂşdo digital no mundo.

Nova VersĂŁo em DVD

A nova versão em DVD contém 07 minutos de imagens adicionais, em relação ao lançamento original do filme nas bancas de jornal em 2000, em formato de fita VHS, legendas em Português, Inglês, Francês e Espanhol, e três extras: os depoimentos do Diretor, Antônio Carlos Muricy, do Prof. Muniz Sodré, e do Dr. Ângelo Decâneo, que faz uma profunda reflexão sobre a violência na capoeira.
Tem ainda uma participação especialíssima do sambista Nélson Sargento, interpretando o samba "Héróis da Liberdade", de Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira. E mais, fotos de Pierre Verger, e desenhos de capoeira do próprio mestre Pastinha.




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